Entrevistando ... Tiago Gonçalves

Quem é o Tiago?

TG: Chamo-me Tiago Gonçalves, natural da Guarda. Atualmente a residir no Porto. Sou licenciado em ciências do desporto, nutrição desportista e massagista.

Em que momento te apercebeste de forma concreta que era o desporto, nomeadamente a área do fitness, aquilo que realmente querias para a tua vida?

TG: Desde muito cedo tive contacto com atividade física. O desporto era futebol, no qual comecei aos 13 anos. Uma lesão grave, levou-me a afastar do relvado (ou pelado em algumas ocasiões, ahah!) e aproximou-me da atividade física em ginásios. Além de não querer estar parado totalmente e este ser um desporto exequível (tendo em conta que a lesão era no joelho), o facto de eu ser muito franzino (52 kg) e querer mudar isso, também pesou na escolha da atividade. Com o tempo fui ficando estupefacto com o que a musculação poderia fazer por mim e rapidamente percebi que era por ali o meu caminho.

Com que idade começaste a praticar musculação?

TG: Com 16 anos.

No início, foste totalmente apoiado pela tua família e amigos? Se não, que dificuldades sentiste?

TG: Na verdade nem me apoiaram nem me desapoiaram. Sempre fui um rapaz responsável e tinha relativa liberdade de ação. Apesar de no início estranharem o uso de sementes, comprar peitos de frango, não comer a mesma comida e isso levar a alguns comentários e observações, mas sempre soube meter as pessoas no devido lugar. Creio que quando as coisas são feitas e ditas da maneira correta, as pessoas acabam por perceber o lugar delas e a indiferença para as suas opiniões.

Com que idade participaste pela primeira vez numa competição e em que tipo de competição? Que resultado atingiste?

TG: Tinha 23 anos se não estou em erro, fui campeão nacional de culturismo clássico até 1.75 m.

Quais as tuas referências ídolos a nível do culturismo?

TG: Kai Green, Dave Palumbo e Frank MacGrath.

Quais as diferenças que apontas entre o nível de conhecimento aplicado ao fitness existente quando começaste e o que se verifica hoje? Achas que esse avanço tem sido aproveitado pelas novas gerações?

TG: Ao longo destes curtos 10 anos de prática, fui assistindo a um crescente interesse por parte das pessoas nesta área. Consequentemente, isso trouxe mais praticantes, mais curiosos, mais envolvidos, o que por si só cria mais opiniões, mais informação disponível (boa e má). Ao longo destes 10 anos fui aprendendo também com pessoas que realmente têm experiencia e muito conhecimento para dar. Se esse conhecimento já existia? Creio que sim. Eventualmente vou descobrindo coisas por mim próprio, experiências comigo e que acabo por usar com os meus atletas. Tudo isso me ajuda a evoluir à medida que o tempo passa. Se todo este crescimento tem sido benéfico, ou proveitoso para as novas gerações? Isso já depende muito da fonte que é usada para obter conhecimento e sobretudo da capacidade de o colocar em prática!

Qual a tua opinião acerca da promoção/apoio do desporto em Portugal, comparativamente à existente noutros países? O que há a melhorar, o que está bem?

TG: No desporto, de uma forma global? Não saberei responder, pois sinceramente não acompanho de perto as outras modalidades, nem sei que tipo de apoios são dados a atletas federados. Na minha área mais especifica, creio que essa promoção é feita pelos próprios intervenientes, e a Federação Portuguesa de Culturismo tem feito um bom trabalho nesse sentido e está bem vista pela Federação Internacional. Relativamente aos apoios, não creio que seja possível, atualmente, viver deste desporto, a não ser que se seja da área (acompanhar atletas, venda de suplementos) ou se saiba aproveitar a imagem. Uma pessoa que saiba aproveitar a sua imagem e a promova adequadamente pode ter vários apoios e ter um retorno financeiro confortável. A internet trouxe-nos essa oportunidade.

Se tivesses que dar alguns conselhos/recomendações a um jovem que se esteja a iniciar na musculação e que pretenda, a longo prazo, competir, quais darias?

TG: Encontrar um "mentor" apto para o ensinar a comer, treinar e a cultivar hábitos que o beneficiem a longo prazo, não só neste campo específico, como também na vida. É preciso criar um ambiente favorável, para que haja um equilíbrio e que o mantenha no caminho certo, por muito tempo.

Que erros apontas como fulcrais numa pessoa que inicia a prática de musculação e que acaba, muitas vezes, por levar à desistência do processo?

TG: "Tesão de mijo". Isto é um atividade que exige equilíbrio, exige que se controlem várias vertentes do nosso dia-a-dia. E ter pressa, ou forçar o que quer que seja, vai estragar por completo. A pessoa não tem o que procura a curto prazo, nem teve tempo de se consciencializar e acaba desmotivada porque as expectativas não correspondem à realidade.

Existe muita controvérsia no que toca a uma dieta que possa potencializar ao máximo o trabalho no ginásio, destacando-se sobretudo os que defendem uma dieta restrita e os que defendem uma dieta flexível, sendo que no cômputo geral, ambas têm uma base semelhante que assenta no atingir da quantidade de macronutrientes necessária para cada objetivo. Em qual acreditas mais e porquê?

TG: Este tema dava para uma resposta muito longa mas vou ser muito breve. Cada pessoa tem necessidades diferentes. A restrição é necessária em determinadas fases, o seu grau varia de pessoa para pessoa. Dieta flexível? Depende bem do que se retira desse conceito. Se eventualmente isso for um nome "bonito" para uma abordagem em que se come porcaria, então isso para mim não faz qualquer sentido! Há também alimentos que são ditos “saudáveis” pelo senso comum, mas que não beneficiam em nada objetivos a nível estético. Sei que é muito vago, mas analisando caso a caso, seria uma tema para um livro. Na minha opinião, as pessoas generalizam demais. Como seres humanos, gostamos de colocar as coisas em categorias, agrupar e dar um nome. Imaginemos o seguinte cenário: Um indivíduo pesa 130 kg, 40% de massa gorda e 1.70 m. Iniciou o processo de perda de massa gorda, lembrou-se de andar o dia todo a maçãs e, passadas 2 semanas, o seu peso desce para 120 kgs. Qual a tendência na sociedade atual? Vamos dar um nome: Dieta da Maçã, uma duração: 2 semanas, objetivo: perder 10 kg. E pronto, escreveu-se entretando um livro a respeito, outros tantos fizeram o mesmo. Se for preciso, dão-se palestras a respeito... É triste não é? Brinca-se com a saúde!

Outro cenário, no dia de uma prova, um atleta meu comeu 3 muffins, 1 pizza, comeu chocolates, arroz doce e, ao longo do dia, foi ficando mais seco! Quanto mais comia, mais seco fivaca, isso quer dizer o quê? Que as pizzas e todas essas comidas processadas ajudam alguém a perder massa gorda ou a ficar mais definido? Não! É preciso conhecer o contexto, aquilo foi aplicado para ele, naquele dia, naquelas condições, manipulando várias variáveis para que tal fosse possível! Não generalizar!

A quem se aplica uma dieta mais restrita, acreditas numa importância fisiológica de uma cheat meal ou de um cheat day?

TG: Cheat day nunca! Cheat meal depende, como está o corpo visualmente, depende do tempo dessa restrição, do nível de treino da pessoa e da quantidade de massa muscular, há varias variáveis a ter em conta.

Existe muito o mito de que, sem suplementos desportivos, não é possível ter resultados. O que tens a dizer em relação a isto? O que achas do atual marketing existente à volta dos suplementos? Cumprirão mesmo aquilo a que se propõem?

TG: Sempre optei dar mais ênfase a comida, tanto os meus pupilos como eu, não usamos muita suplementação. É possível evoluir sem tomar suplementação, sem sombra de dúvidas!

Consideras que, atualmente, os praticantes de musculação têm mais paixão ao desporto em si ou ao corpo que ambicionam ter?

TG: Infelizmente é mais ao corpo que querem, não desfrutam da verdadeira essência deste desporto/atividade, não se aprende aquilo que se poderia retirar e que pode ser usado em tantas outras áreas da nossa vida. Por isso há tanta gente que não consegue dar continuação, se não procurarem gostar, se não se interessarem, jamais conseguirão manter as coisas durante muito tempo. Para pessoas que realmente gostam, é fácil manter as coisas, tudo é feito com gosto e os resultados acabam por ser o efeito secundário de anos e anos a fazer as coisas certas.

É um tema tabu neste universo. Qual a tua opinião acerca do uso de esteróides anabolizantes?

TG: Isto é outro tema que dava muitas linhas. Eu já falei abertamente a respeito deste tema e acabei sendo punido. Tenho perfeita noção que a informação correta em mãos erradas é tao grave quanto a desinformação. Portanto qual será o melhor caminho? Esconder e fingir que não há pessoas mal informadas a fazer porcaria ou falar abertamente e suscitar o interesse por parte de quem nem tinha tal conhecimento de causa? É complicado! Na parte que me diz respeito, sempre optei pela informação responsável, mas quando pertencemos a uma organização, temos que nos reger pelas regras, concordando ou não.

Acompanhas muitas pessoas presencialmente e de forma online. O que mais te fascina nesse projeto?

TG: Fascina-me o facto de ver pessoas, todos os dias, a melhorar seja a saúde, qualidade de vida e auto-estima (corpo, mente e alma, são esses os pilares da minha marca T3). Mas nem tudo é um mar de rosas, nem sempre o processo em si é fácil ou nem sempre as pessoas estão dispostas a...!

Qual consideras ter sido, até hoje, o pico/momento alto da tua carreira enquanto atleta?

TG: Creio que não tenho um pico, tenho vários momentos, seja através das minhas conquistas, seja através das conquistas dos meus atletas.

Qual o teu sonho em termos profissionais/competitivos?

TG: A nível profissional tenho vários objectivos, que vou manter no secretismo, mas passa por chegar a todas as pessoas de uma maneira eficaz, ajudá-las realmente! Em termos competitivos, estou a preparar-me para competir em provas internacionais e algumas em Portugal também, lutando pelo 1º lugar.

Não sei se passa pelos meus objectivos tornar-me competidor profissional, creio que o tempo me dará essa resposta...