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Leite, um mentiroso!


Talvez o título do artigo te tenha causado alguma estranheza. Afinal de contas, estou a adjetivar o leite, a bebida tão apregoada pela nossa sociedade, de mentiroso. Porquê? Vou responder.

Desde que nascemos que somos alertados para a importância de beber leite. E o argumento para tal é sempre o mesmo: porque contribui para ossos saudáveis.

É indiscutível que o leite é uma bebida rica em proteínas de alto valor biológico, vitaminas e minerais, nomeadamente vitaminas B12 e D, cálcio e fósforo, mas é o leite uma bebida assim tão apropriada para consumo humano?

Desde os primórdios da Humanidade, que foi confundido o facto do bebé necessitar do leite materno durante os primeiros tempos de vida, com o facto de precisar de leite proveniente de outras vias (sejam elas da vaca, cabra, ovelha...) durante todo o percurso de vida.

Sim, está comprovado que o leite materno é fundamental para o bebé, não só pela quantidade variadíssima de vitaminas, minerais, gorduras, proteínas e hidratos de carbono, mas também por motivos cientificamente comprovados. Um desses motivos é o aumento da imunização do bebé. Estudos mostraram que o leite materno diminui as chances da criança desenvolver alergias. Bebés que são amamentados ganham proteção extra de anticorpos. Isso acontece porque todos os anticorpos produzidos pela mãe chegam ao bebé quando este toma o leite materno. Após um contacto com um microrganismo, o corpo da mãe produz anticorpos que são libertados no leite materno.

Outro motivo é a diminuição do risco de obesidade. De acordo com um estudo da Organização Mundial de Saúde, as crianças que tiveram uma amamentação prolongada tinham uma chance 22% menor de apresentar risco de desenvolverem sobrepeso ou obesidade. De uma forma clara, o leite materno está para o bebé, assim como o leite, por exemplo da vaca, está para a sua cria... e não para o ser humano.

Recentemente, estudos apontam para os malefícios e problemas do consumo regular de leite, como alergias, flatulência, acne e processos inflamatórios.

De acordo com um estudo realizado em 1996 com 6094 raparigas entre os 9 e os 15 anos de idade, existe uma associação positiva entre o consumo regular de leite e o aparecimento da acne.

Tais problemas ocorrem devido a alguns fatores, como, por exemplo, a intolerância à lactose. Pessoas intolerantes à lactose são pessoas cujo organismo não é capaz de degradar a lactose, o principal açúcar do leite, devido à ausência de uma enzima, a lactase, que é então responsável pela degradação da lactose em glucose e galactose. Alguns dos sintomas associados à intolerância à lactose compreendem episódios de dores abdominais, diarreia, inchaço e vómitos, episódios estes que ocorrem nos momentos seguintes à ingestão de produtos com lactose.

Por sua vez, é de salientar que foram realizados estudos em animais e esses mesmos estudos foram muito claros, mostrando que uma exposição crónica à D-galactose é prejudicial para a saúde, promovendo o stress oxidativo, envelhecimento celular precoce, neurodegeneração, respostas imunitárias diminuídas e alterações genéticas.

Um outro fator de enorme importância é a resposta insulínica do leite. Este apresenta um índice glicémico alto, potenciando, a longo prazo, outros problemas, como diabetes e doenças cardiovasculares e até cancerígenas.

Um estudo publicado em 2004 no American Journal of Clinical Nutrition avaliou os hábitos de consumo de leite e derivados de 61084 mulheres com idades compreendidas entre os 38 e os 76 anos. O período total considerado foi de 13 anos e meio. Os cientistas verificaram que as mulheres que consumiram 4 ou mais doses de produtos láteos por dia apresentaram maior risco de desenvolver cancro dos ovários do que aquelas que consumiram duas ou menos doses. De todos os produtos láteos, o leite foi o alimento com a associação mais forte com o cancro dos ovários.

Para além deste estudo, existem muitos outros, nomeadamente estudos que indicam uma associação muito forte entre o consume de leite e os cancros da próstata e da mama.

Um estudo publicado em 2007 avaliou a associação entre o consumo de produtos láteos e o risco de desenvolver a doença de Parkinson. Os investigadores reuniram dados de 57.689 homens e 73.175 mulheres. Durante o tempo do estudo, de 1992 a 2001, 250 homens e 138 mulheres desenvolveram a doença, o que pode parecer um pouco insignificante, mas pode não o ser.

Agora, vamos discutir o argumento que os nossos ascendentes se habituaram a incutir-nos: o de que o leite promove ossos fortes e saudáveis, diminuindo a probabilidade de problemas ósseos, como a osteoporose. É verdade, o leite é rico em cálcio e sim, o cálcio é um dos elementos constituintes dos ossos, mas será que o leite auxilia na prevenção deste tipo de problemas?

Em 1986, um investigador de Harvard publicou um trabalho que mostrava uma associação direta entre o consumo de cálcio e a incidência de fraturas da anca, ou seja, quanto maior era o consumo de cálcio, maior era o risco de fratura.

Outro estudo muito semelhante ocorreu em 1997. Este estudo levou em consideração os hábitos alimentares de quase 78 mil mulheres com idades compreendidas entre os 34 e os 59 anos, durante 12 anos. Os investigadores observaram que as mulheres que consumiram mais do que um copo de leite por dia apresentaram 45% maior probabilidade de sofrer fraturas da anca, ao contrário do que seria de esperar.

Muitos outros estudos com conclusões semelhantes foram realizados.

Um outro aspeto a ter em conta é que o leite não é mais um alimento natural, mas sim um alimento processado. Ao contrário do que acontecia antigamente, o leite é agora consumido na forma pasteurizada e este processo, embora tenha muitas vantagens, tem também desvantagens, entre as quais a acidificação, resultante da sua modificação química.

Para além disso, há um último fator que considero muito importante referir. Hoje o leite, por exemplo de vaca, não provém mais das vaquinhas de pasto verdejante, filhas da Natureza.

Hoje em dia, devido a toda a industrialização, interesses comerciais e fome de dinheiro em que vivemos, o Homem tem agido de forma a aumentar a quantidade de produto de forma a suprir as necessidades de toda a população, em detrimento da qualidade. Neste caso, tratam-se de vacas frequentemente expostas a medicamentos e tratamentos hormonais e esses são aspetos muito relevantes, pois nós somos o que consumimos e tal consumo terá, sem dúvida, efeitos na nossa qualidade de vida.

Finalizo com alguns possíveis substitutos do leite. Bebidas orgânicas e não geneticamente modificadas de amêndoa, arroz e soja são boas alternativas ao leite tradicional e possuem muitos outros benefícios, os quais, possivelmente, serão debatidos em pormenor num próximo artigo. Pensem bem nas escolhas que fazem, pensem em vocês!


Fontes:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17083856

http://ajph.aphapublications.org/doi/abs/10.2105/AJPH.87.6.992

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC442335/

http://www.scielo.br/pdf/jped/v81n5/v81n5a04

http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/leite-de-vaca-remedio-ou-veneno=f813109

http://terapeuticos.pt/afinal-o-leite-de-vaca-faz-bem-ou-mal-conheca-os-estudos-cientificos/

http://www.scielo.org/cgi-bin/wxis.exe/applications/scielo-org/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edart.org&nextAction=lnk&lang=p&indexSearch=&exprSearch=LEITE%20DE%20VACA

http://ecocheervegan.com/nutricao-vegetariana/155-calcio-no-organismo

https://www.portaleducacao.com.br/medicina/artigos/53153/a-importancia-do-leite-materno-na-imunizacao

http://www.minhavida.com.br/saude/temas/intolerancia-a-lactose










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